6.12.05

Da literatura infantil e seus nefastos efeitos


Está nas salas de cinema o filme “Oliver Twist” baseado na obra homónima de Charles Dickens. Não irei ver o filme, que tresanda a blockbuster natalício, mas esta estreia fez-me recordar o livro que li há já muitos anos.

Acho que esse foi um dos meus problemas. Ter lido demasiados livros de Dickens em tenra idade, tão susceptível ainda: ele era o “David Copperfield”, ele era “A pequena Dorrit”, os “Tempos Difíceis”, as “Grandes Esperanças”, sucessões de orfanatos, maus-tratos, fome e demais fatalidades... Li também os livros da Louisa May Alcott, as “Mulherzinhas”, “Boas Esposas”, “Oito Primos” e os “Homenzinhos”, todos eles igualmente de faca e alguidar, uma desgraceira pegada!
Não fossem os livros já suficientemente dramáticos, na televisão a história era a mesma. Os desenhos animados eram de fazer chorar as pedras da calçada: a Heidi e a Ana dos cabelos ruivos, ambas orfãs coitadinhas; tanto o Marco como o Sebastião, perdidos nesse mundo à procura das respectivas mamãs…

Resultado: tornei-me isto que sou hoje, uma jovem adulta profundamente lamechas, que chora baba e ranho no cinema e fica doente com criancinhas a pedir entre as mesas dos cafés.

Mãe, Pai! Porque não me deram antes os livros d' "Os cinco" ou a colecção “Uma Aventura”??

7 comentários:

Anónimo disse...

Piquena gaja, como eu te entendo! O efeito que provocou em mim foi outro, mas igualmente terrível. Não choro no cinema, mas sou uma agorofóbica! No meu caso, a culpa é do Rato do Campo e do rato da Cidade.

Anónimo disse...

Ser orfão é uma coisa. Inevitabilidade trágica.
Mas no caso do Sebastião... As implicações do abandono nas mentes juvenis! A crueldade de não explicarem ao moço que a Mãe se tinha pisgado. Quantos de nós, espectadores atentos do drama, vivemos no terror da partida súbita dos nossos próprios progenitores?

ASPHALTO disse...

Pensei que o Roman Polanski era um grande do cinema e que seria razão suficiente apra ir ver o filme. Além disso ele disse que transpôs partes da sua infância em guerra para a miséria de Oliver Twist.
"O pianista" foi a bem e acho que este, dentro do género blockbuster natalício é capaz de não ser mauzito de todo... já outras malhas de época, essas sim, poderão aludir ao riso ou lágrima fácil (mais a primeira que a última).
Como dizia a não menos grande Alcina Lameiras de saia travada sentada na bordinha de uma cadeira de escritório: "Não negue à partida..."

beijos do fã mouro (mas não mourinho)

gaja disse...

Olá Dom Cócó. Acredito que o Roman Polanski seja um bom realizador e tudo e tudo e tudo. Admito também que a Alcina Lameiras, essa grande filósofa (gostei tanto que se tivesse lembrado da sua saia travada) tem toda a razão - o preconceito é uma coisa muito feia. Mas há tantos filmes que queria ver e tão poucas oportunidades para ir ao cinema que vou esperar pelo Oliver Twist em DVD!

beijinhos para si

gaja disse...

Minha amiga, acredite que os livros d' "Os Cinco" ou "Uma aventura" não poderiam fazer nada por você. Sim, eu li grande parte dessas duas colecções, e continuo a ser lamechas. Acho que as leituras do Oliver Twist, Mulherzinhas e outros que tais deram cabo de mim de imediato, sem possibilidade de recuperação. Mas enfim, eu era uma gaja que chorava com pena dos corvos dos desenhos animados que se matavam um ao outro...
E a "Princesinha", lembram-se? Eu herdei esse livro da minha mãe, e ela ainda se emocionava ao falar dele quando mo deu para as mãos. E de facto, a história de menina que ficou órfã e que foi obrigada a trabalhar como criada no colégio interno onde antes era apaparicada e que vai morar para umas águas furtadas sombrias é do mais lamechas que há...
Isto leva-me então a crer que, para as crianças, o que realmente as faz chorar é a ideia de ficar órfão. É o ponto comum a todas estas histórias (tirando as Mulherzinhas e afins, que sinceramente não acho histórias tão trágicas e por isso tão interessantes...)

Anónimo disse...

Recordando os livros de infância lembro-me que devorei todas as colecções de mistério, incluindo esses que menciona, "os cinco" e "uma aventura" (Mais "os sete", "o triângulo jota"...) e se isto lhe traz algum aconsolo, a única coisa que acrescentou à minha personalidade foi um desejo de ser detective na adolescência :)
De resto li "O senhor dos anéis" nas interminaveis férias do Verão ( um volume por cada Agosto) e outros do TolKien. Apesar de ter adorado, não me trouxeram nada mais que bom entretenimento e fantasia, o que por si só já é alguma coisa.
A minha mãe incutiu-me a colecção da Condessa de Segur ("Os desatres de Sofia", "As férias" e tantos outros) que penso terem contribuído para a minha formação moral...alguém conhece?

gaja disse...

Pois olhe kida amiga, eu, vi o filme. E devo-lhe dizer que não desgostei nada. Verdade, não é própriamente o Rosemary's baby, mas tambem não tem a Mia Farrow. Mas é agradável e está muito bem para levar os sobrinhos, isto é, se passar num cinema aqui na Foz.
Quanto a literatura juvenil, eu, devo confessar que nunca fui gaja de ler vultos literários, eu era mais como a nossa amiga :-), era mais dada às aventuras. Mas então o que me terá tornado nesta gaja fria (não frígida!!!), cínica e depravada que sou? Que é que se terá passado na minha infância?

A mana tesoura