8.3.06

O enxoval

Só a palavra naperon, só por si, é um galicismo do mais piroso. Mas o pior problema do naperon é que ele nunca vem só. Traz consigo paninhos de tabuleiro, lençóis, toalhas e panos, tudo com muita renda, bordados, folhos e flores de cetim. Sim, estou a falar do ENXOVAL!

Eu diria que o enxoval é o terror de qualquer gaja. Durante anos ele representou a mais vil descriminação contra as mulheres – todos os Natais e aniversários, enquanto os meninos recebiam brinquedos, milhares e milhares de meninas do nosso Portugal foram presenteadas, por familiares de gosto duvidoso, com artigos para o enxoval. Não se faz!

Depois de cada Natal lá acabava tudo numa arca bafienta ou no fundo de uma armário da casa materna, junto com uma dúzia de bolas de naftalina. E depois por lá ficava abandonado e todas desejávamos fervorosamente não ter de desenterra-lo nunca. Um dia uma gaja decide mudar-se e finge esquecer-se de todos artigos têxteis-lar que acumulou durante uma vida. Umas vezes passa. Outras vezes não.

Acontece que o abandono do enxoval pode acarretar sérios problemas. Em primeiro lugar a família costuma ficar deveras sentida com a não utilização do material fornecido. Em segundo lugar há aquela altura da vida da gaja em que ela se apercebe da real utilidade da treta do enxoval e a necessidade é tal que qualquer uma pondera a utilização de umas toalhitas bordadas ou de uns panos de cozinha com o Galo de Barcelos.
No meu caso pessoal, o que me livrou de conflitos familiares de maior foi ter arranjado uma casa minimal. A escassez de mobiliário é tal que a torna muito pouco naperonável.

Deixo-vos, no entanto, algumas sugestões. Em primeiro lugar não custa nada tentar, desde cedo, sensibilizar a família para que, de facto, a existência de rendas e folhos é totalmente desnecessária. Pode também tentar a troca directa de artigos barrocos pelo modelo básico – algumas mães e tias estão disponíveis a negociações desse género. Em último caso, uma gaja com sentido prático pode sempre reciclar, descoser rendas e bordados, cortar lençóis, etc… Olhe, use a imaginação!

10 comentários:

Anónimo disse...

Nunca percebi muito bem a ideia de um exoval! Em vez de naperons, rendinhas, toalhas e outras porcarias, poderiam sempre oferecer a uma menina, desde criança, material para a construção de uma casa (tijolos, cimento, madeira etc). É que sem casa, não há onde guardar o enxoval.

Anónimo disse...

E pensar que dizem que eu é que sou a criativa da familia.. pois pois! reciclar!? muito bem... confia em mim os teus não serão nem de perto nem de longe tão maus como os meus! esses nem para reciclar dão! não têm ponta por onde se lhes pegue! Ou melhor.. era pegar-lhes fogo! ò que saga será esta a nossa!!? Isto é um pesadelo que nos persegue... enxoval!!! uuuuu

rps disse...

... e um dia mais tarde, a maioria das gajas contestatárias do enxoval, lá anda preocupada com o enxoval da filha...
Que vida de ciclos repetitivos!...

gaja disse...

Pequena: pode sempre vender tudo na Vandoma! Tão pertinho lá de casa e tudo...


Pois claro RPS, tem toda a razão. A única coisa que nos distingue das nossas mães é que nós já percebemos que os meninos também precisam de enxoval. Ai que contentes ficarão os meus futuros fedelhos quando, em vez de um jogo para a futura playstation VI, receberem meia dúzia de tolhas de rosto!!

salomé disse...

Hum, Hum. Com v/ licença, gajas.

E eu que passava a vida a gozar com as minhas primas que só recebiam panelas, lençóis, varinhas mágicas (daquelas pouco mágicas) e afins... pois agora, faziam-me um jeitaço! Claro que dos naperons (nome muito charmoso, concordo!) me continuo a rir… nem tudo está perdido!

gaja disse...

Ah Salomé, eu tenho um sonho! Eu sonho que um dia todos os enxovais irão ser constituidos por pequenos electrodomésticos, panelas e demais utensílios que, fazendo jus ao nome, sirvam realmente para qualquer coisa!

Tudo menos naperons...

Woman Once a Bird disse...

O meu sonho é um bocadinho diferente. Acho que os gajos já deviam vir com algumas funcionalidades instaladas: o enxoval de que falas (sem naperons) e respectivo manuseamento perfeitamente interiorizado e optimizado. Isso é que era de máxima utilidade.

Anónimo disse...

TA BOM!!!!! E QUE TAL VISITAREM INCANA.BLOGSPOT.COM??

Anónimo disse...

"o enxoval"!! do que a gaja se foi lembrar! cresci com uma mala liiinda mas que fui obrigada a ignorar porque ... sim, porque carrega dentro o meu enxoval! coisa que a minha maezinha se encarregou de me mostrar desde cedo. e eu horrorizada! é que cobiço aquela mala, mas fujo a sete pés do seu conteúdo!!
e que adianta? consegui, como a gaja, arranjar uma casinha onde só entra o essencial. até aqui, tudo bem, a mãe resmunga mas aceita. e lá vai guardando mais um paninho aqui, um tupperware ali. mas quem convence a minha madrinha que os panos que tenho me chegam?? todo o santo natal lá me cai uma pecinha nova no sapato.. oh, sorte! antes o chocolatinho da falta de imaginação. o meu irmão que o diga, que a ele não o enchem de tralha.
ai, gaja, que pesadelo este!
beijos da vossa anónima (que não é assim tanto)

gaja disse...

Não sei devido a que estranha combinação de factores, na minha família niguém ligava muito a isso. Portanto, eu sou uma gaja sem enxoval. E tenho muito orgulho nisso!