27.4.07

A Gaja que não acabou os estudos


Desde pequena que gosto muito de animaizinhos e plantas e ciências e essas coisas todas. Cheguei mesmo a pensar (que ingénua era) que podia ser investigadora em Portugal. Mas depois lá em casa não me deram a oportunidade de continuar os meus estudos - que as proprinas, já nessa altura, estavam pela hora da morte - e acabei por desistir. A minha prima que é dona do cabeleireiro lá do bairro deixou-me ir para lá lavar cabeças. Depressa aprendi a fazer mises e madeixas. Daí ao corte, foi um pulinho. Abri o meu próprio negócio, com a minha amiga gaja que é esteticista e cumprimos o nosso sonho: ter um salão de beleza! Sabemos da vida de toda a gente e ainda por cima ganhamos imenso dinheiro. A que mais na vida poderiamos aspirar?
Quando penso que por pouco não convencia os meus pápás a deixar-me ir para a Faculdade... A esta hora teria gasto preciosos anos da minha juventude em mestrados e doutoramentos e seria uma mal paga bolseira de investigação, sem direito a férias, nem a feriados, nem a baixa médica. Até chega a ser perigoso, não explicar aos jovens logo a partir dos 15 anos o que é o "Estatuto de Bolseiro de Investigação". É preciso tentar demovê-los desde cedo e fazê-los abandonar o gosto pela Ciência a todo custo, antes que seja tarde demais e caiam em desgraça. Eu sei destas coisas que lá no salão aparece de tudo, e chega-me lá muita mãe a chorar por ter o filho nas listas da FCT.
Outra das coisas horríveis que me podiam ter acontecido se tivesse estudado era seguir a carreira docente. Tenho vários amigos que se meteram nessa vida e digo-vos, aquilo é coisa mesmo triste! É vê-los todos os anos amarrados às listas de colocação, como quem consulta o obituário. Quando não estão desempregados, andam a correr o país como ciganos, a perder o juízo todinho numa escola qualquer.

Do que eu me livrei, Nosso Senhor Jesus Cristo!
Aprender NÃO compensa!

4 comentários:

gaja disse...

Facadas:

é normalíssimo que não compreenda esta posta, uma vez que não vê a TV lusa. não se apoquente, que assim que tiver oportunidade, explico-lhe tudo!

gaja disse...

Ainda bem que me vai explicar, porque estou completamente perdida... ou como diria a outra... como vaca sin cencerro...

Va la, conte-me entao tudo... se calhar arranja um tempinho enquanto as clientes secam a permanente!

A facadas

gaja disse...

Ufa, do que a gaja se livrou!
Para além da lista de adversidades que referiu, esqueceu-se ainda de mencionar que, se tivesse mesmo ido para a frente com os estudos,

1. Não teria direito a subsídio de desemprego porque uma bolsa de investigação não é, na verdade, um emprego;

2. Também não teria direito a concorrer a primeiro emprego porque deste ponto de vista sim, a bolsa já é um emprego;

3. Teria de assinar um contrato em que consta que o mesmo cessa quando não houver dinheiro para lhe pagarem (assim, sem mais nem menos!)

4. Teria de fingir ficar muito contente quando os seus chefes, como prémio pela sua enorme dedicação, lhe concedem a honra de fazer, totalmente de graça, o trabalho que a eles lhes compete (como por exemplo dar aulas).

5. Teria não só de fazer a sua investigaçãozinha diária mas também gerir laboratórios, pessoas e eventos pela módica quantia de ... uma bolsa!

6. Pensaria duas vezes antes de adquirir um todo-o-terreno - afinal, os chefes poderiam pensar que ali estava uma bela oportunidade de fazer trabalho de campo sem gastar um cêntimo extra a adquirir ou alugar viaturas apropriadas e quem se lixaria quando o carro ficasse sem embraiagem e caixa de velocidades era a menina!

Enfim - ainda bem que nós, gajas, nos livrámos de tudo isto e que não temos licenciaturas, mestrados e doutoramentos!

rps disse...

O melhor mesmo é tirar uma licenciatura por fax e cartão de visita...
Vosso RPS