16.2.08

A gaja que ouve (demasiado) bem queixa-se dos seus vizinhos

Eu sou uma gaja cusca. Muito cusca. Saber da vida alheia e cortar na casaca do próximo são das coisas que mais prazer me dão na vida. E, como já devem ter reparado, este blog chama-se “gajas no corte” e não “gaja no corte”; é óbvio que não estou sozinha na minha grande paixão por este pequeno pecado.
No entanto, apesar de não ter pruridos em me definir como cusca, tenho a minha ética, os meus limites. Há coisas sobre a vida alheia que eu não faço questão de saber. Aliás, faço até questão de não saber.
E uma coisa é quando tentamos conhecer a vida alheia pela via tradicional, que é trocando informações com outras gajas. É desse carácter inquiridor, de procura activa, que eu gosto na actividade de cuscar. Outra coisa bem diferente é quando a vida alheia nos entra pela casa adentro sem perguntar se pode e sem ser desejada. Neste contexto, em minha opinião, a coisa mais tenebrosa que pode acontecer é ouvir-se um casal a ter sexo num quarto vizinho.
Eu achava que já tinha tido a minha dose de voyeurismo sonoro passivo na minha breve passagem por uma casa na rua da Torrinha, no Porto. Aí, a vizinha do lado gritava estridentemente “Estou-me a vir! Estou-me a vir!”, para quem quisesse e também para quem não quisesse ouvi-la (o marido, no primeiro caso; eu, todo o prédio e quiçá toda a rua, no segundo).
Agora, aqui nos states, tenho um novo mas semelhante pesadelo. Quer dizer, ao contrário do casal da rua da Torrinha, o jovem casal do quarto em cima do meu não tuge nem muge nem se ouvem gritos de espécie nenhuma. Mas fazem abanar a cama de uma forma inacreditavelmente ruidosa, e sobretudo a um ritmo aceleradíssimo que está nos antípodas do romântico. Como é lógico, além de aborrecido, o barulho não me deixa dormir nem trabalhar. E não há headphones ou música alta que resolvam o problema.
Para agravar a situação, é certo e sabido que os americanos levam o dia dos namorados a sério. Na noite de 13 para 14 fui à cozinha já tarde e a rapariga atarefava-se a fazer uns pindéricos biscoitos em forma de coração pintados de cor-de-rosa. Ontem, dia dos namorados, o namorado aparece na cozinha com um ar de urgência, perguntando se eu sabia onde estava o saca-rolhas. O pânico apoderou-se de mim. Se o ruído já é mau num dia normal, no dia dos namorados e com vinho e biscoitinhos românticos à mistura a coisa pode potencialmente impedir-me de dormir a noite toda… Então decidi ir deitar-me de imediato e tirar partido do meu afamado sono de pedra, antes que eles tivessem tempo de acabar a garrafa. E para aqueles que esperavam pormenores ainda mais escabrosos do que os que já fui fornecendo ao longo desta posta, lamento desiludir-vos: a verdade é que dormi lindamente!
Moral da história: Dia dos Namorados volta, estás aperdoado: oh, se eu pudesse antecipar sempre desta maneira a hora da ginástica!…

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