Setembro (ou seria já Outubro?) de 1996. Acabei de chegar ao Porto. Estou no Jardim Botânico, no meio de dezenas de colegas, que tal como eu têm orelhas de burro de cartolina azul-bebé. Não conheço ninguém, mas também não posso fazer nada para o remediar porque não me deixam falar. Obrigam-nos a andar aos pares, como se fôssemos crianças da primária. A rapariga a quem dou a mão é gigante. Chama-se “Bombista” (eu sou a “Ovos Moles”) e respira estranhamente alto. Tem (como o meu pai agora diz) cara de bebé chorão.
Foi assim que conheci a Gaja Mouca. Desde então partilhámos muita coisa, desde flores pela manhã a plenários pela noite, passando pelo gosto por fazer listas até ao vício incontrolável do jogo. E, claro, este blog. Há também muitas coisas que nos separam (por exemplo, músicas pastosas, o vinho verde, a genética, o fundamentalismo com a fruta e, mais recentemente, todo o Oceano Atlântico), mas são insignificantes.
A Gaja Mouca faz hoje 30 anos. Em breve será a vez da Facadas e logo depois a minha. Daqui a poucos meses seremos todas gajas trintonas. Quando nos conhecemos éramos teenagers, agora somos oficialmente adultas e crescidas. O que não significa nada: já devíamos todas ter filhos e estar casadas, mas nem sequer temos planos sérios de o fazer. Já devíamos todas ter muito juízo, mas isso é algo que não abunda em nenhuma de nós. Devíamos ser sérias e responsáveis mas aqui estamos nós – ou pelo menos algumas de nós – a planear mudar de emprego e começar do zero.
Continuaremos a envelhecer juntas. As nossas conversas irão transformar-se. Começaremos a falar das rugas, dos cabelos brancos, da menopausa, dos malucos que são os jovens de hoje em dia, de outros livros, outros filmes, outras histórias, outras músicas, dos filhos, se os houver, dos netos, se lá chegarmos. Hoje posso dizer que raramente me divirto mais do que quando estou com vocês, gajas. E isso – tenho a certeza absoluta – nunca vai mudar.
2 comentários:
Eh pá. Ainda não tinha sido aqui abordado o facto de ser uma choramingas.
Pronto, é verdade: choro nos filmes, às vezes nos livros, também choro com algumas músicas. Nunca tinha chorado com postas. Há sempre uma primeira vez - foi aos trinta!
Mouca
Uma bela posta!
E parabéns à Gaja Mouca!
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