7.2.05

Ajuda precisa-se!

Há por aí gajas que saibam interpretar sonhos? Por favor! Psicólogas, psiquiatras, parapsicólogas e parapsiquiatras de todo o mundo, uni-vos e ajudai-me, que eu estou numa angústia terrível! Pois bem, deixem então que eu me estire neste divã e comecem a analisar-me agora mesmo.

É frequente eu sonhar que assassino pessoas. Em sonhos já esfaqueei dentistas e enfermeiras com pedaços de vidro, já esborrachei polícias debaixo de portas de garagem, e já assassinei outros agentes de autoridade à queima-roupa. Para ser franca, não fiquei extraordinariamente afectada pelo facto. Enfim, suponho que será normal. Mas hoje, queridas amigas, tive um sonho diferente.
Não me lembro bem dos pormenores, porque infelizmente o processo de acordar acarreta sempre uma perda de informação que acaba por fazer com que o sonho pareça confuso, quando na realidade fazia todo o sentido enquanto o estava a sonhar...
No meu sonho, alguém me irritou profundamente. Não me lembro muito bem quem foi (só sei que era da minha família) nem o que fez para me irritar tanto. O que aconteceu foi que fiquei logo cheia de vontade de assassinar alguém. Não essa pessoa em particular, porque para mim a família está acima de tudo e nem em sonhos ponho esse valor de parte, estão a perceber? E não podia assassinar um estranho qualquer porque nos sonhos não há pessoas que a gente não conheça, não é verdade? Deve ter sido por isso que planeei este homicídio. Jean-Paul Gaultier tinha que morrer.
Fi-lo de uma maneira completamente premeditada. Fiz-lhe uma espera atrás de uma árvore, no Parque Municipal da minha terra natal. O que essa figura tão importante do jet-set internacional estaria lá a fazer também é coisa para a qual não tenho explicação. Era de noite e estava a chover. Assim que ele passou, aproximei-me e disparei alguns tiros. Lembro-me de que ficou com a sua linda toilette completamente manchada de sangue e de lama... Corroída pelo remorso mas com a sensação de missão cumprida, fugi a sete pés.
Como é óbvio, ao outro dia essa notícia fez a primeira página de todos os jornais e não se falava noutra coisa. Por um lado, sentia-me tranquila porque achei que nunca ninguém me ia desmascarar. Por outro, sentia-me com um peso enorme na consciência. Afinal, era a primeira vez que assassinava um elemento do jet-set. E, ao passo que todos os outros assassinatos tinham sido em auto-defesa, desta vez elegi um inocente e assassinei-o a sangue frio. O sonho continuou com esta sensação de angústia, que se transformou em medo quando um polícia veio ter comigo dizendo que me tinham situado no local do crime por causa das pegadas. Apesar do polícia estar sorridente, inspirar confiança e assegurar-me de que tinham a certeza de que eu não era culpada, achei por bem acordar antes que as coisas se complicassem. E assim foi.

Pronto. Relatei-vos o meu sonho. Agora digam-me... Acham normal uma gaja sonhar que mata um homem tão fashion, que luta por aquilo em que eu acredito e trabalha por um mundo melhor para todas nós? Ajudem-me por favor, que estou assustada comigo mesma!

5 comentários:

ASPHALTO disse...

Dom Cócó dá umas puxadas no seu cachimbo e amaldiçoa o dia em que resolveu comprar tabaco de cereja.
Pensa no caso de Gaja e parece vislumbrar o que pode ser a adequação correcta à realidade dela.

O JotaPê , chamemos-lhe assim, encarna em si uma carga feminina muito grande. No entanto é uma carga ganha, porque a expressão genética não é a sua. Condensa em si, portanto, toda a feminilidade adquirida. também se pode dizer que tudo o que é feminino nele, veio por fora. Se pensasse numa mulher poderia ser mais dificil separar as águas.

Dom cócó reacende o cachimbo e dá umas puxadas parcimoniosas reateando o lume. Já se sabe que todo o sonho tem algo de sexual subjacente, o que Dom Cócó gosta de chamar por "porcariazinha".

Indagando G. apercebe-se das suas amizades com gente colorida sobretudo "homens sensíveis". JotaPê parece encabeçar o estereotipo destes e poderá ser figurativamente um dos seus amigos senão mesmo, TODOS!
G. precisa de se afastar ou de matar um demónio seu.
Há que morrer e nascer de novo por vezes. Também se pode dar o caso de matar o que não se pode ter, ou mesmo matar o que não se pode ser.

A música clássica aumenta lentamente o volume avisando ambos que a hora de sessão terminou, sem nunca se falar num incómodo fim. Encararemos como apenas mais um intervalo nesta conversa.

Dom cócó vê a lista de consultas enquanto G. se dirige para a porta e cospe um pouco da oleosidade do cachimbo que lhe ficou no lábio.

gaja disse...

Gaja gaja... Acalme-se... Eu não sou perita em sonhos, muito menos em Psicoanálise, mas o seu sonho preocupa-me. Do ponto de vista de uma leiga na matéria, o que o seu sonho revela é uma revolta imensa e dolorosa contra o seu lado feminino. Todas sabemos que a gaja é comunista, mais, a gaja é bióloga, e ainda pior é uma comunista amante da natureza. Mas a gaja está numa fase nova da sua vida em que tenta reconciliar as suas raízes, com uma visão mais "glamourosa" de si mesma. O processo é doloroso, a menina está submergida por uma luta muito muito intensa e negativa. O kido JPG aparece no seu sonho e você decide matá-lo, porque ele é simbolo de espartilhos e glamorosos seios (veja-se a Madonna na sua fase blonde ambition tour). Mas tal como aconteceu com a supracitada essa fase pode ser superada e você, sim gaja você, pode transformar-se numa máquina capitalista se se conseguir reconciliar com a sua nova posição na vida e com o kido JPG.
Não resisto por fim a comentar o meu próprio sonho com o JPG. foi à muitos anos, mas em linhas grossas o que se passou foi básicamente o seguinte. Eu estava a assistir a um desfile supremo do JPG. A bjok era uma das modelos a desfilar com um glamoroso casaco até aos joelhos. Foi amor à primeira vista. A próxima coisa que eu sei é que estou com o JPG (ele com a sua famosa t-shirt de marinheiro) e com a duende Bjork no backstage do desfile. Bem, detalhes à parte eu saio do Louvre para as ruas de Paris com o dito casaco vestido.
Tá a ver gaja, sonhos assi m é que são bem. Tome qualquer coisa para ter sonhos mais leves menina, e de uma vez por todas abandone a sua pele comuna e naturalista que você hoje é uma gaja crescida, gira, sexy e de sucesso e tem que abraçar essa sua nova realidade!
Um xuac enorme e deixe o menino JPG continuar a trabalhar que a gente quer ver o Gael Garcia Bernal naqueles lindos vestidos colados à pele mais vezes!!!
A mana tesoura

gaja disse...

Ó mana tesoura, agora é que lembrou bem! Com o Gael Garcia Bernal é que eu não me importava nada de sonhar! Ai cala-te boca...

Pandora (Soap Opera DataBase) disse...

Nada de especial, eu proprio já sonhei com esse genero de coisas. e tive t e para ti a melhor forma de mudarb a sensação de "peso e perseguição" em cima do ombro como tu. Mas não te preocupes... não existe nada de errado contigo, apenas uma grande vontade de mudar tudo o quanto te rodeia, desde pessoas a acontecimentos, etc... e para ti a melhor forma de mudar tudo é mesmo pela raiz. Vais ter uma grande e desigual luta, perante este teu dilema. posso te dizer... olha... vai frente e seja o que deus quiser lol. agora vou trabalhar mais um pouquinho... tem de ser. See u...

gaja disse...

cara gaja (dear chick)

é óbvio que esse seu sonho é um "anti-fashion statement". para si, jean-paul gaultier já é "last-tuesday" e o que a gaja agora quer é roupinha barata em malha e cores terra. cachecóis compridos e ganchos no cabelo. tornar-se-á uma verdadeira hippie.

os sonhos muitas vezes são mais claros do que o que os psicólogos querem dar a entender.. bom, a verdade é que.. eles precisam de ganhar dinheiro. não ceda a esses caprichos. encare os seus sonhos como uma projecção directa daquilo que realmente sente. se quer assassinar o JP, faça-o. mas com classe.

Carrie Bradshaw
(tomei a liberdade de pedir à minha assistente que traduzisse o texto para português)