Hoje vou abdicar do meu anonimato. Vou deixar de ser simplesmente uma gaja para passar a ser uma gaja com um nome. Foi uma decisão difícil, mas queria muito escrever esta posta e não o podia fazer sem esta revelação. Por isso, blogosfera amiga, olá, eu sou a Catarina.
Partilho este nome com muita gente da minha geração, e há uma boa razão para isso: muitas de nós, pelo lado feminino, tal como muitos dos Vascos, pelo lado masculino, são filhas de pais que quiseram assim homenagear o espírito revolucionário da altura. E, tal como o fizeram com esse gesto simbólico, os nossos pais também se esforçaram por não deixar que a Revolução, a sua história e o seu significado caíssem no esquecimento. Tal como muitas Catarinas e Vascos nascidos nos anos 70, eu cresci a ouvir falar do 25 de Abril.
Foi por isso que, andava eu na primeira classe, quando a professora fez a pergunta “Alguém sabe o que foi o 25 de Abril?”, dois meninos puseram prontamente o dedo no ar: eu, que apesar de tudo não consegui mais do que a resposta poética “Foi o dia da Liberdade!”; e o Vasco, que do alto dos seus seis anos gritou “Foi o dia em que os fascistas se foram embora!”. Apesar das desigualdades que pudesse haver à partida, no fim desse dia já todos os meninos da sala sabiam responder à pergunta. Nessa altura, apenas onze anos passados sobre o 25 de Abril, a sua razão de ser ainda estava bem presente no espírito das pessoas, e fazia-se questão que as crianças soubessem “o que custou a Liberdade”.
Hoje tudo é diferente. É certo que ainda vai havendo algumas Catarinas, se bem que agora inspiradas pela Furtado. Para elas, assim como para as Vanessas, Brunas e Cátias, o 25 de Abril é dia de festa simplesmente porque é feriado e não vão à escola. Os pais não ensinam, a escola não ensina, e os Morangos com Açúcar – a referência educativa dos jovens de hoje – também não.
A minha indignação pelo desconhecimento geral em relação à Revolução dos Cravos não tem a ver com sentimentalismos. E, sobretudo, vai para além da questão da (falta de) educação académica. Eu acho mesmo que os valores de Abril fazem falta. Correndo o risco de parecer “cassete”, acredito que ninguém pode dar valor à Democracia se não estiver consciente da sua fragilidade. Provavelmente, os jovens de hoje não vêem problema nenhum em que os seus professores sejam despedidos por dizer mal do governo. Que nos transformemos num país de ignorantes é uma ideia à qual me poderia acostumar; agora que vivamos num país de idiotas, isso não.