10.5.05

Gente de Barcelona


Depois de uma viagem trans-atlântica e de passar dias a ver apartamentos com a minha amiga Sam [que consegue sempre os melhores negócios, fazendo para isso uso do seu corpo], consegui instalar-me num bem simpático, na Gran Via de Les Corts Catalanes, perto da Plaça d'Espanya.

E deixem-me dizer-vos, Barcelona é uma cidade adorável. Tem de tudo: arte, cultura, música, moda, homens giros, homens feios, homens que parecem giros, mulheres que parecem homens, mulheres que afinal são homens... enfim, uma macedónia de gente mais ou menos interessante que poderia eventualmente tornar-se no nosso melhor amigo.

Mas não... os catalães não são desses que fazem amigos facilmente. São consideradas pessoas frias, que mantêm sempre uma distância equivalente ao comprimento de 2 campos de futebol quando tentamos iniciar uma conversa. Os próprios guias turísticos o dizem: não espere ser recebido de braços abertos em Barcelona.

Passei estas últimas semanas a tentar descobrir por que é que as coisas são como são. Será que o problema é mesmo desta gente? Será que o problema é meu? Será que há um truque para derreter os corações dos catalães?

Facto nº 1: os catalães são animais gregários. Andam em grupinhos e dificilmente deixam alguém "de fora" fazer parte deles.

Facto nº 2: os catalães pensam que a lingua oficial de Espanha é a sua, e por vezes esquecem-se que nem todos são obrigados a sabê-la. Isto traz dificuldades quando tentamos obter alguma informação e nos respondem num idioma estranho.

Facto nº 3: as pessoas não são simpáticas por natureza. Se vais na rua atrapalhado com 5 malas a tentar descer as escadas do metro, não esperes obter ajuda.

Facto nº 4: toda a gente que conheci aqui [que não é muita] é de fora da Catalunha: Valência, Zaragoza, Madrid, Murcia, Santiago de Compostela, Gijón.

Depois de lerem este texto poderão pensar "Então por que raio é Barcelona uma cidade adorável?"

Porque sim. E a única maneira de descobrir é vivendo cá uns tempos. E depois garanto que vai ser dificil regressar e impossível não ter saudades.

Carrie Bradshaw
[em Barcelona]

4.5.05

As gajas também falam de futebol...

Regresso hoje, caras gajas, para vos falar de futebol. E, tal como a maioria dos comentadores desportivos, não vou falar do desporto propriamente dito. Por um lado, porque o que se passa dentro das quatro linhas não me interessa minimamente; por outro, porque não percebo nada do assunto. OK, OK, esta desculpa é esfarrapada, o que há mais por aí são pessoas que falam do que não sabem e dentro de cada português vive um comentador de todo e qualquer assunto, pronto para ser libertado. Mas acreditem, para mim, tanto me faz se houve fora de jogo ou se um golo foi mal anulado. Se nutro algum interesse futebolístico pelo clube da minha terra, é só porque sou uma gaja regionalista. Provavelmente, quando se der a trágica e inevitável descida à Liga de Honra, encolherei os ombros, esquecerei o assunto e dedicar-me-ei ao coleccionismo de moliceiros de porcelana ou ao engordamento por ovos moles!
Também não vou falar dos futebolistas, porque gajos de cabelo comprido atrás que andam com correntes e/ou dentes de ouro e usam a terceira pessoa do singular para se referirem a si próprios não fazem o meu género. Por isso, se já estavam a imaginar que este post iria descambar numa lista do estilo “Os dez melhores pares de pernas da Super Liga” ou coisa parecida, desenganem-se.
Vou, sim, falar de um facto que só demonstra que o futebol, nos dias que correm, não tem piada nenhuma. O Chelsea conquistou o título de campeão inglês, depois de 50 anos sem ganhar. De quem é o mérito? Os portugueses, como sempre cegos pelo lusitano orgulhinho que tão poucas vezes podem manifestar, dizem sem hesitação que o mérito vai todo para o Mister Mourinho. Eu acho que não. Talvez fosse uma questão de ingenuidade, mas eu achava que, no desporto, o que interessava realmente era o jogo, a emoção, a incerteza, o suor, as lágrimas e essas coisas todas. Mas, infelizmente, parece-me que, como tudo o resto, os campeonatos desportivos são como enormes jogos do monopólio onde tudo se compra e tudo se vende e ganha quem tiver o maior maço de notas. Se eu fosse rica e um dia por acaso me fartasse de negociar petróleo, era possível que me passasse na real gana "E se eu comprasse o Beira-Mar?". E com o meu orçamento ilimitado também comprava um treinador com currículo, recheava o plantel com todos os craques que o dinheiro pode comprar e montava uma televisão privada para mobilizar os adeptos. Depois, reclinar-me-ia na minha cadeira preferida, a beber o meu whisky de 25 anos enquanto via no camarote privativo as vitórias e os pontos a amontoarem-se. Digam-me lá, amantes do futebol: seria justo?
Agora a sério, para mim, o que teria tido realmente piada era que o Chelsea não tivesse ganho. Isso é que era lindo! Significaria que, apesar de tudo, não é o dinheiro que faz o mundo girar. A idealista de esquerda que há em mim rejubilaria! Mas isso não aconteceu e assim como assim eu nem gosto de futebol...
Mas já agora, faço aqui uma proposta à FIFA: limitar o orçamento dos clubes de futebol. Cada clube só teria direito a gastar um determinado montante por ano, gerido como entendesse: passes de jogadores, equipa técnica, corrupção de árbitros, manutenção dos estádios, publicidade, impostos (não aplicável a equipas portuguesas), etc. Todas as receitas que obtivessem para além deste montante teriam de ser canalizadas para instituições de caridade. As vantagens seriam incontáveis: os campeonatos seriam mais justos; os jogadores deixariam de ganhar exorbitâncias sob a pena de ficarem desempregados devido ao facto de o seu salário perfazer a totalidade do orçamento da equipa; por cada árbitro corrupto haveria um jogador no desemprego (sim, que as prostitutas estão pela hora da morte!); e, mais importante ainda, deixaríamos de ver certas e determinadas pessoas a fazer figuras ridículas de roupão.